terça-feira, 24 de junho de 2014

Votação online não é critério confiável




     Está em andamento o concurso “Alto Retrato”, promovido pela PJF, por meio da Secretaria de Comunicação Social – SCS e da Funalfa. O concurso foi divulgado pelo JF em Foco (veja notícias). E apoiado, como sempre fazemos com iniciativas fotográficas, apesar do problema em potencial decorrente do formato escolhido, de votação online. 

     O edital previa duas etapas, uma de seleção por comissão julgadora, que escolheria 20 (vinte) fotos, que iriam em seguida a votação online. Os prêmios em dinheiro (R$ 1.000,00 e R$ 500,00) ficariam com as duas fotos mais "votadas". 

     As fotos foram disponibilizadas para votação, mas em quantidade de 30, não de 20. 

     Iniciada a votação, havia a possibilidade de se acompanhar sua evolução em tempo real, o que é comum em enquetes online. Porém, começaram a surgir problemas. Alguns participantes notaram que algumas fotos estavam recebendo quantidade desmesurada de votos, observando a ocorrência de “1 voto a cada 5 segundos”. A PJF, talvez percebendo o que ocorria, retirou do ar o acompanhamento dos votos. 

     O problema começou a ser discutido em redes sociais, e o JF em Foco não deixou de acompanhar. Veja os comentários em uma das matérias que divulgaram o concurso.

     O que ocorreu? 

     Embora, apenas como observador externo, não se possa saber com certeza, é possível imaginar, pois o quadro tem todas as características de conhecidos problemas ocorridos anteriormente em concursos online.

     O JF em Foco continua apoiando a iniciativa, mesmo porque a PJF e a Funalfa têm realizado importante trabalho no campo da Fotografia na cidade, que deve ser reconhecido e apoiado sempre. Mas também pode contribuir apresentando considerações sobre os problemas ocorridos e sobre critérios e práticas em concursos. É o que fazemos neste artigo.

  • Votação online não é critério confiável


    • Primeiro, porque se perde completamente a natureza do objeto do concurso (seja de fotografia, de humor, de pintura, de cinema, de culinária ou do que for) e se privilegia outra coisa: a capacidade de mobilização, ou seja, quem tem mais amigos, parentes e conhecidos para votar

    • Segundo, porque o modelo de “enquete”, como é conhecido, não tem validade estatística alguma, não sendo confiável sob qualquer critério de avaliação.

    • Portanto, não é recomendável em hipótese alguma.

      Isto, na melhor hipótese. Na pior, fica-se sujeito a tentativas de fraude.

  • Tentativas de fraudes


    • Sabe-se que é muito comum a incidência de tentativas de fraudar votações online.

    • O objetivo pode ser somente a obtenção de resultados, talvez de autopromoção, o que já seria lamentável. Mas há também os chamados “prize hunters”, “caçadores de prêmios”, que usam as mais diversas táticas, como uso de perfis falsos de redes (quando o concurso é realizado em uma rede, como facebook), ou “robôs” de votação.

    • Parece ser este o caso da atual ocorrência. Com o uso de programas, uma pessoa pode promover votações automáticas em quantidade quase ilimitada.
 
    • Infelizmente, os fraudadores são atraídos por concursos que oferecem prêmios de valor significativo em votações online. Possivelmente, o que ocorreu no concurso “Alto Retrato”.

  •  Bons critérios para concursos
 
     É muito difícil impedir completamente as fraudes. Mas algumas práticas podem desestimular bastante as tentativas.


    • Nada de votação online. É problema na certa.
    • Seleção por júri qualificado. Se é para promover concurso, deve ser usado critério de seleção que seja respeitado. Se é um concurso de cinema, júri com cineastas ou cinéfilos reconhecidos e respeitados. Se é de culinária, chefs ou gourmets. Se é de fotografia...
    • Não oferecer prêmio baseado em critério de maior quantidade de votos (ou “curtidas”, ou coisa que o valha). Se não há recompensa,
      os fraudadores não serão atraídos. Prêmios de maior valor (em dinheiro ou bens) devem atribuídos por júri técnico. Pode-se até promover júri popular (como em festivais de cinema), mas dando apenas troféus ou diplomas.
    •  Transparência. Nomes dos jurados, quantidade de votos recebidos (já que é o caso), qualquer critério utilizado ou mudança nos critérios, tudo deve ser amplamente divulgado.  E se houver tentativas de fraude, elas devem ser admitidas e explicadas. Há fraudadores em toda a Internet e alguma vez se pode ser alvo deles. Não é vergonhoso ser "atacado", mas é honroso e garante a credibilidade ser transparente.

     Bem, e como proceder agora que o problema já ocorreu? Demos algumas sugestões acima. Há outras possíveis. Por exemplo, no limite, a organização poderia considerar desclassificar as fotos que receberam votos em quantidade suspeita. Mas é de difícil aplicação.

     Poderia também reconsiderar a atribuição do prêmio pelo critério de “maior votação” e evoluir para um critério mais técnico, passando ao júri a atribuição dos prêmios, com base nos critérios já estabelecidos no edital. 

     A se manter o critério atual, ficará uma questão de ordem ética no ar: é cabível a PJF eventualmente premiar com mil reais alguém que pode ter fraudado a votação online e, portanto, o concurso? 

     O próprio edital, em seu item 10.2, dá o caminho: “Os casos omissos serão apreciados e resolvidos pelos organizadores, em acordo com a Comissão de Seleção.”. 

     De modo geral, como contribuição para a qualidade de futuros concursos, o JF em Foco vai passar a oferecer algumas diretrizes, critérios e boas práticas para que um concurso fotográfico seja bem organizado. Estarão disponíveis no blog para organizadores.

3 comentários:

  1. Excelente, Marcos! Espero que as suas ponderações tenham ressonância junto ao comitê organizador do concurso.

    ResponderExcluir
  2. Excelente post. Resumiu tudo muito bem. Aguardemos o desfecho...

    ResponderExcluir
  3. Achei injusto tanto o critério de votações on line (por leigos em fotografia), quanto pelo fato de terem zerado o voto de todos, inclusive daqueles que nada tiveram com a fraude. O pior de tudo foi ver fotógrafos conhecidos da cidade (professores de fotografia) pedindo votos pela internet, facebook, etc. Lamentável! Afinal, as pessoas deveriam votar nas fotografias e não nos fotógrafos. Pedir votos na internet é pedir para votarem nos "amigos" e não nos trabalhos!. Lamentável, mas, onde há dinheiro envolvido em premiações sempre haverá os espertinhos de plantão, tentando tirar vantagem em tudo.. e, infelizmente, pelo resultado final, está provado que tiraram sim vantagem...

    ResponderExcluir